sexta-feira, 14 de junho de 2013

Cárie (parte 1)

Hoje vou começar a falar sobre a cárie. Acredito que esse assunto irá render 2 ou 3 posts, já que passei uns 2 anos da faculdade aprendendo sobre isso!

Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que a cárie não é necessariamente o furinho que podemos ver no dente, e sim, é uma doença bacteriana infecto-contagiosa e que, portanto, passa de uma pessoa para outra. Logo, é assim que o seu filho vai contrair essa doença! Ao beijá-lo na boca, ou mesmo próximo dela, dividir a colher ou canudinho com ele ou, até mesmo, assoprar a sopinha para esfriar, estamos passando as nossas bactérias para ele! Isso sem falar na popular (e nojenta) mania de "limpar" a chupeta que caiu no chão na nossa boca... (tem um post bem legal que fala sobre isso lá no Mil dicas de mãe, confiram aqui: http://www.mildicasdemae.com.br/2013/05/colocar-a-chupeta-do-filho-na-boca-pode.html )

Mas então o que é o furinho no dente? Aquilo é a sequela da doença. Uma vez que temos um ou mais tipos de bactéria cariogênica dentro da boca, temos a doença mas, se teremos ou não os famigerados buraquinhos, isso depende de outras coisas...

Fiquem sempre de olho nos dentinhos para ver se encontram manchinhas ou buraquinhos. Se virem alguma coisa, mesmo se os dentes forem de leite, corram para o dentista!


As bactérias se alimentam dos restos de comida (carboidratos) que ficam grudados nos dentes, e, como resultado de sua digestão, secretam ácido (como se fosse xixi e cocô da bactéria, eca!) e é esse ácido que corrói o esmalte do dente, causando as manchinhas e até furos na superfície. Então se não ingerirmos carboidratos não teremos problemas? Correto! Mas convenhamos, isso é impossível!

Ilustração das bactérias construindo o biofilme e "fazendo xixi" no dente, que seria o ácido liberado após a digestão dos carboidratos.

Além da dieta, o processo da cárie depende de outra coisa também, que é o sistema de defesa imunológica de cada um. Não tem gente que pega um resfriado por mês e vive com infecção de ouvido ou garganta, enquanto outros quase nunca ficam doentes? Essas pessoas têm a imunidade reduzida e isso funciona da mesma forma para a cárie. Pode ser que certo indivíduo ingira a mesma quantidade de carboidratos do que outros e tenha uma higiene semelhante ou pior, mas não desenvolva as lesões da doença. Mas isso é uma questão de sorte! Já que não sabemos se nossos filhos serão ou não sortudos e manter uma dieta 100% sem carboidratos está fora de questão, só nos resta ter uma boa higiene oral!

Existem estudos que mostram que se a criança não apresentar nenhuma lesão de cárie (ou dentinho furado) até os 12 anos de idade (isso contando dentes de leite e permanentes, hein!?), muito provavelmente não terá nenhuma até o final da vida, portanto, paciência e dedicação com a escovação do filhote nesse começo podem garantir bastante tranquilidade financeira no futuro!

 

sábado, 8 de junho de 2013

Interposição de língua

Hoje vou falar de um assunto que vocês, pais, e o pediatra podem ajudar e muito no diagnóstico (existem vários tópicos que são assim, da conta de um monte de gente diferente mas a culpa acaba sendo sempre do coitado do dentista...), que é a interposição da língua, normalmente acompanhada pela deglutição atípica também. Aí você pensa "credo, o que são essas coisas?". Calma, eu explico!

Grande parte das pessoas deixa a língua em um determinado ponto do céu da boca enquanto ela "descansa" e pressiona contra esse ponto quando ela engole. No entanto, uma porcentagem da população posiciona a língua em outros lugares, normalmente contra os dentes superiores. Quando a pessoa faz isso só quando engole, chamamos de deglutição atípica. Quando é só quando descansa, interposição de língua. Já adianto que se seu filho tiver um destes problemas, muito provavelmente ele vem acompanhado do outro. A deglutição atípica, ainda, pode vir acompanhada de frouxidão nos músculos da boca e bochechas, que verificamos quando a criança fica frequentemente de boca aberta, inclusive quando está engolindo alimentos.

A: correto posicionamento da língua
B: Interposição


Uma das implicações de qualquer uma destas anormalidades (não estou dizendo que seu filho é anormal, eu, por acaso, tenho as duas coisas, é que não é o comum, ok?) é o mau posicionamento dos dentes, principalmente os da frente. Pouca gente sabe que a língua é um dos músculos mais fortes do nosso corpo e ela é capaz de bagunçar, e bem, os dentes. Se ela se posicionar no lugar errado, pode empurrar os dentes, fazendo com que abra um vãozinho entre os eles, ou que um ou mais deles girem, ou simplesmente que sejam projetados para frente.

Reparem como os dentes (ou às vezes só um dente) entortam e se separam

Percebam a língua empurrando os dentes, sendo que deveria estar no céu da boca


Mas de onde vem o problema? Na maioria dos casos, isso é proveniente de um mau hábito, que se inicia na época em que a criança perde os dentes de leite e posiciona a língua na "janelinha", mas pode ser também causado por macroglossia (língua muito grande), problemas de postura ou consequência de síndromes, como a de Down, por exemplo.

O tratamento é multiprofissional, ou seja, seu filho provavelmente passará por um longo acompanhamento com otorrino, que verificará se há problemas respiratórios que impeçam o fofinho de fechar corretamente a boca, fono, que tem o papel de ensiná-lo a engolir e posicionar a língua corretamente e ortodontista/ortopedista funcional, que vai corrigir o mau posicionamento dos dentes e outros problemas anatômicos nos ossos.

Então, se você notar seu filho frequentemente com a boca aberta, babando enquanto bebe do copo, ou com os dentes "entortando", não deixe de procurar os profissionais indicados!

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Criança precisa fazer canal?

A grande maioria dos adultos que eu conheço têm calafrios só de pensar em ter que fazer o canal de um dente. Imagina ter que fazer esse procedimento no seu filho? Mas às vezes precisa...

Em primeiro lugar, deixe-me explicar o que é tratar o canal, porque muita gente morre de medo mas nem sabe direito o que é. Dentro do dente existem nervos e vasos sanguíneos, que, por diversas causas, podem inflamar e/ou necrosar, precisando ser removidos lá de dentro. O dentista usa alguns instrumentos para tirar todo o tecido vivo de dentro do dente e depois completa o espaço que ficou com materiais estéreis e inertes (que não causam reação nenhuma ao nosso corpo) e, com isso, o dente pode continuar na boca anos a fio, sem doer. Não é assim tão assustador, né? Acontece que quando o canal precisa ser feito por causa de uma inflamação na polpa (os nervinhos e vasos), dói. E dói muito.
Reparem na quantidade de nervos e vasos

Dente com cárie / polpa sendo removida / dente preenchido com material estéril

Uma das causas mais comuns da inflamação na polpa é a cárie muito profunda e que já está lá há um bom tempo. As bactérias chegam até o centro do dente causando a infecção e esse tecido vivo "incha" e acaba fazendo muita (mas muita mesmo) pressão dentro do dente. Quem já sentiu isso sabe que é de enlouquecer. A boa notícia é que criança não sente tanta dor assim quando a cárie chega no canal. Isso porque os dentinhos delas são mais abertos do que o dos adultos, como mostram as radiografias que seguem, e neles tem muito mais espaço para a polpa inchar, fazendo muito menos pressão. Então, se o baixinho reclamar de dor de dente, mesmo que não seja uma dor muito forte, fique atento pois pode ser canal!

                     Dente permanente com canal tratado           Dente de leite com canal tratado

 (Olhem como o dente de leite é mais largo. O permanente é muito fininho e muito fechado no final. Não tem espaço para inchar, por isso dói mais)


Outra razão comum que pode indicar o tratamento do canal em crianças é o trauma, ou seja, aqueles famosos acidentes nos quais o fofinho cai de cara no chão, na quina do móvel ou na borda da piscina. Como eu já comentei aqui, se o seu filho perder um dente em um acidente e for possível reimplantá-lo no lugar, muitas vezes o tratamento do canal é indicado. Mas, se a criança bate o dente em um acidente e ele continua lá no lugar, também devemos ficar espertos e observar durante algumas semanas. Se houver alteração de cor, amolecimento do dente ou fratura de um pedaço dele, grandes chances de o odontopediatra querer fazer o canal.

Mas e por que tem que fazer o canal? Bem, como eu já comentei antes, extrair não é uma opção legal pois existem muitas complicações provenientes de se perder um dente antes da hora e manter o dente na boca com uma infecção certamente não é a coisa certa a se fazer. Lembram que dentro do dente tem veias e artérias? Esses vasos carregam sangue que circula por todo o corpo e existe uma grande chance de as bactérias da cárie caírem na corrente sanguínea e irem parar no fígado, pâncreas e principalmente, no coração. Você não quer isso para o seu pequeno, quer?

Não tem como negar que a ideia de uma criança tratando o canal é um pouco assustadora. O melhor que podemos fazer é prevenir, visitando frequentemente o dentista para dar uma olhada se não tem cárie mas, se precisar, tem que respirar fundo e deixar fazer o canal!